A dura vida de um organizador de torneios

Pablyto Robert • 6 de abril de 2011 • Categoria: Artigo Site Xadrez Total 

Que tal dedicar meses de trabalho em prol de um torneio grande, cujos custos de início (antes mesmo dos relógios serem acionados) sejam enormes, o trabalho seja árduo e as reclamações e insinuações desabonadoras contra sua pessoa sejam muitas? Parece ruim, não é? Pois é, é até pior dependendo de quem é você e de seu grau de simpatia com a comunidade enxadrística em geral.

Não é segredo para ninguém que o xadrez nacional é repleto de grupinhos. Cada grupo tem uma inclinação e aproximação com alguma entidade ou com alguma pessoa envolvida politicamente no esporte. Quando um organizador não tem um bom relacionamento com alguém que pertença a um desses grupinhos ou com alguma entidade ou político que se relaciona com o grupinho, muita gente procura “minar” o trabalho do organizador, antes mesmo do evento acontecer. É batata, a grande maioria não é crítico de verdade, mas sim alguém tentando fazer barulho e incomodar, atrapalhar, pois o sucesso do lado contrário deve ser evitado. A situação é vista como se fosse uma guerra: se ele ganha, eu perco.

É com tristeza que constatamos isto. Nos poucos torneios que organizei diretamente pela CBX (Brasileiro Amador, por exemplo), estando à frente das inscrições e todo o resto (em alguns com a valiosa ajuda do AI Mauro Amaral), experimentei de perto estas questões. Um ou outro, por se achegar mais a grupos que são “oposição” à CBX, destilou críticas das mais absurdas aos torneios, mesmo com a maioria esmagadora da comunidade enxadrística tecendo os mais rasgados elogios aos eventos e nossa organização.

Muita gente não tem a menor ideia do quanto custa para se organizar um torneio do porte do Mundial da Juventude. Mas muita gente logo se põe a escrever asneiras em blogs, para ofender o organizador. Não sou da organização desta vez, mas não gosto de injustiça. O evento foi pensado para o Rio de Janeiro, mas teve que ser abortado, pelo simples fato de que os pouquíssimos hotéis que teriam estrutura para receber uma competição com cerca de 1500 jogadores serem absurdamente caros e estarem em localidades onde as demais opções eram igualmente caras. Isto se dá porque o Rio de Janeiro tem um complicador imenso: recebe turismo de negócio e lazer ao mesmo tempo, a demanda é sempre alta, o que eleva os preços sobremaneira.

O evento foi realocado para um local paradisíaco, com opções de hospedagem a R$ 55,00 (café da manhã incluso)! E tem gente achando isto um abuso? Se o torneio fosse no Rio, 55,00/dia seriam gastos apenas com alimentação! E quem não ficasse no hotel, ainda teria o custo com transporte, etc. Mas, como o que importa é reclamar, essas questões ficam de lado. Fala-se até em uma obra arquitetada, já que no RJ “muitos” jogadores poderiam ficar na casa de amigos ou parentes! Para criticar por criticar, qualquer pessoa um pouco mais empenhada arranjaria justificativa até melhor…

Gostaria, nesta análise, de lançar alguns fatos, relacionados a outros mundiais realizados em outros países. Bem, em todos estes, os jogadores brasileiros tiveram que se hospedar nos hotéis conveniados (seja na França, na Turquia ou na Grécia – os três que me recordo sem esforço algum). Na França, os hotéis eram muito distantes, era uma viagem diária para se jogar as partidas, isto sem contar a péssima alimentação. Foi um show de horrores que rendeu ao organizador uma suspensão na FIDE. Mas disto ninguém lembra, porque o objetivo, como já dito, é atacar o organizador brasileiro. Tanto na Turquia, quanto na Grécia, os eventos não foram nas principais cidades, o que tornava obrigatório a hospedagem nos conveniados. Bem, lá os pacotes ficavam acima de 1.000,00 Euros e o pagamento era obrigatoriamente realizado via a Federação nacional (no caso da Turquia, os Gregos foram mais flexíveis, aceitavam depósito – ou seja, transferência internacional, que é tributada e aumenta o custo). No evento que será realizado em Caldas Novas/GO, há opção de pagamento com cartão de crédito, tudo direto com a organização e todos os tipos de opções de hospedagem, com preços variados, sendo todos os hotéis próximos ao salão de jogos, com deslocamento a pé.

Não vou nem tecer comentários sobre os valores que o organizador teve que antecipar à FIDE, como garantia do torneio. Nem os investimentos em infra-estrutura (já que o torneio não é composto só do local, mas de peças, relógios, tabuleiros,, equipe de arbitragem, etc.).

Concluindo, todo mundo tem direito de reclamar. Mas penso eu que isto deveria ser feito com justiça e imparcialidade, não com motivações pessoais, picuinhas, etc. Diz o ditado bíblico: “Dai a César o que é de César”. E aqui tem que ser dado ao organizador os parabéns pelo esforço em trazer o evento, correr atrás de um local que disponibilizasse preços variados de hospedagem, possibilitar pagamento por cartão e diretamente com a organização, entre outros tantos pontos positivos que são propositalmente esquecidos pelos “críticos”. Tem-se que reconhecer que é um esforço de 2 anos, já que esta história de mundial 2011 se iniciou em Outubro de 2009, durante o 80º Congresso da FIDE.

Pablyto Robert é presidente da Confederação Brasileira de Xadrez e árbitro internacional. Foi árbitro na olimpíada de xadrez de Dresden, Alemanha em 2008, entre outros inúmeros importantes torneios.

Nota de agradecimento pela excelente entrevista do Site Xadrez Total
              www.xadreztotal.com.br


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